domingo, 4 de julho de 2021

Precisamos mesmo de livros didáticos de Matemática?

 Muita coisa tem acontecido em 2021! É, ainda estamos em pandemia (ainda...😕) e por isso, mais uma vez, só dá pra alimentar esse blog quando há um tempinho livre e surge um tema que realmente vale o esforço. Pois bem, além de todas as demandas que nós professores temos tido com as aulas remotas emergenciais há uma questão que nos foi apresentada e que merece nossa atenção: a escolha dos livros didáticos para o uso na Educação Básica.

Precisamos reconhecer que o novo PNLD tem apresentado mudanças necessárias ao cenário atual, já que os recursos didáticos adotados pelas redes precisam estar alinhados à BNCC. No entanto, é preciso destacar que nem sempre as ofertas que se dizem alinhadas ao programa realmente tem atendido as nossas realidades...e não é de hoje... Por exemplo, eu nunca consegui usar o livro didático escolhido na minha instituição de forma efetiva em todas as turmas que lecionei. Quem nunca teve que preparar o próprio material para as turmas de Educação de Jovens e Adultos porque o livro adotado não foi concebido considerando todos os perfis, só para os que estão em condição regular? E na minha rede, a de Educação Básica Técnica e Tecnológica, cujas propostas são mais diversas, fica inviável adotar uma escolha pensando que será "a solução dos meus problemas".

Mas além dessas questões, e também por causa delas, sempre pensei que já está na hora de repensarmos a necessidade e o uso do livro didático de Matemática. O professor Gert Schubring inicia sua "Análise histórica de livros de matemática" afirmando que: "O saber matemático é transmitido por dois caminhos privilegiados: pela comunicação pessoal ou oral e por textos escritos". Mas isso foi em 1995, né gente? Eu ainda estava me preparando pra iniciar minha graduação em bacharel...numa época em que meu único acesso a computadores (e provavelmente de muitos colegas) ainda era na universidade.

Vamos ser realistas? Já faz um tempo que nossos alunos usam outros meios (ou mídias) para se apropriarem do saber matemático. Além disso, tempos que refletir se realmente soluções proprietárias e fechadas, como as que temos usado, são melhores opções para atendermos cenários tão diversos. E é pra isso que escrevo esta postagem, pra apresentar alternativas e refletirmos juntos. Veja para que lados podemos olhar para ampliar nossos horizontes:

Livros gratuitos - são alternativas interessantes no caso de uma análise da relação custo-benefício, considerando o atendimento às demandas e ao uso efetivo do recurso. Imagine quanto desperdiçamos em dinheiro quando adotamos recursos que não são usados na sua totalidade ou da forma devida? Nesse sentido são ótimos exemplos o projeto "Um Livro Aberto", produzido como resultado da parceria entre o IMPA e o Instituto Itaú Social e o Livro Didático Público de "Matemática - Ensino Médio", produzido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná

Livros interativos - Mathigon - O Livro Didático do Futuro, com o lema "Interativo. Personalizado. Livre" apresenta um vislumbre de como os materiais impressos já podem ser facilmente substituídos por formatos que proporcionam experiências mais ricas no contexto do uso das tecnologias digitais. Claro, esse tipo de solução evidentemente vai exigir uma equipe multidisciplinar para a sua concepção, mas serve como referência para projetos inovadores. 

Livros abertos colaborativos - se sua rede tem perspectivas de criação de soluções mais personalizadas pode ser uma uma alternativa a produção coletiva fazedo uso de plataformas WIKI. Aliás, você sabia que pode editar um livro personalizado através da WIKIPEDIA? Usando a opção "Criar livro" no menu de funcionalidades do lado esquerdo qualquer pessoa pode montar um livro selecionando artigos referentes aos temas. Atualmente, a opção de gerar o PDF está desativada, dando a opção apenas de impressão. Mas adotar a filosofia de produção colaborativa aberta pode ajudar a pensar soluções viáveis para cada contexto.

Livros no Geogebra - para quem quer usar uma plataforma muito difundida entre os professores de Matemática cujas funcionalidades permitem inserir conteúdos dos mais variados formatos e considerando níveis diferentes de interação. É, pessoal, já dá para criar conteúdo neste formato no Geogebra. Ao reunir e organizar várias atividades criadas na plataforma você tem a possibilidade de gerar um "livro" digital . Se você ainda não conhecia este recurso aproveita e dá uma explorada no site.

Ok, você já percebeu que uma resposta possível ao questionamento que me motivou é: SIM, eu acho que o livro AINDA é um recurso interessante, mas está cada vez mais fadado à obsolescência se continuar "evoluindo" somente no formato. E à medida que o acesso a novos formatos e conteúdos aumentar, e as ferramentas de autoria se popularizarem, as soluções fechadas e proprietárias podem ter sua existência ameaçada.

Claro, há um fator que precisamos considerar: a formação docente também precisa evoluir, pois a grande maioria dos cursos de formação inicial não evidenciam as habilidades de produção e criação de recursos didáticos de forma consistente. Quando isso começar a acontecer, o livro didático se tornará o que deveria ser, só mais um recurso no leque de ferramentas que a própria comunidade docente produz.

E você, o que acha? Você usa de forma efetiva o livro didático adotado? E seus alunos...usam? (Não vale como peso de papel) 😉

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