sábado, 2 de novembro de 2019

Não! Não precisamos "facilitar" o ensino de Matemática!

Cada vez mais acredito nisso, sim!

Calma, antes tenho que esclarecer algumas coisas. Dizer que não precisamos "facilitar" não é a mesma coisa que defender que devemos "dificultar" o ensino (ou a aprendizagem, como queira). No entanto sempre me causa um desconforto quando alguém defende que o professor precisa "tornar o ensino de matemática mais lúdico", ou deve "simplificar", ou deixar mais"prazeroso" pro aluno. Nesses casos sempre aproveito pra debater sobre o tema, e defender outro ponto de vista. 

Com uma formação em bacharelado e licenciatura sou levado sempre a analisar as vantagens do esforço e do trabalho que uma atividade mais complexa de algum tema da área traz para um aluno. Evidentemente, não estou defendendo que toda vivência com o tema deve ser carregado de complexidade e esforço exaustivo, porém não dá pra desconsiderar que isso faz parte, sim, da construção do saber matemático.

O problema, ao meu ver, está na falta de entendimento claro das linhas metodológicas que temos à nossa disposição. Etnomatemática, investigação matemática, modelagem matemática, resolução de problemas, uso de história da matemática, ou de tecnologias digitais...são propostas que, nem de longe, deveriam sustentar o argumento de "facilitar" o ensino. Aliás, nem o uso de ludicidade deveria ser visto assim. Todas elas, de uma forma ou de outra, tem em essência a busca por replicar o fazer matemático próprio do matemático profissional (claro, em outros níveis a depender de cada contexto).

Por isso nunca chamo um jogo educacional, com vistas a proporcionar uma experiência de aprendizagem, de "joguinho". Nos meus ouvidos isso tira o peso da importância da atividade e do próprio recurso adotado. Até porque o jogo não deve ser usado com o intuito de "facilitar" ou tornar "divertido" simplesmente (digo, esse não deve ser o motivo principal de sua escolha). Ele deve promover a construção de um saber...e isso pode estar carregado de uma complexidade ou de uma simplicidade, a depender do objetivo d@ profissional.


No livro "Como ajudar as crianças a aprenderem: o que funciona, o que não funciona e por quê", Paul Tough descreve que "persistir diante de um desafio intelectual e ser bem sucedido apesar das dificuldades é uma experiência profunda para crianças em idade escolar - ao que parece, tão profunda quanto a ação e reação para o cérebro do bebê. Ela gera o senso de competência e autonomia". E esse senso de competência e autonomia também traz algum sentimento de satisfação, de prazer mesmo.


(Um parênteses...no capítulo 21. Desafio, o autor apresenta um estudo comparativo de práticas de professores de matemática com alunos do Japão e dos EUA bem legal pra ilustrar essa questão das vantagens em apresentar situações complexas em detrimento de práticas que não exigem um esforço cognitivo maior pelos alunos. Vale a pena a leitura!)

Então, vale revisitarmos nossas crenças e refletirmos sobre o que realmente precisamos defender. Principalmente se esse "facilitar" vem carregado de uma ideia de "simplificar" no sentido de não aprofundar muito nos assuntos, porque a tendência é que o nível de complexidade vai aumentando.

Ah...e minha resposta sempre que alguém usa algum desses termos é: precisamos tornar o ensino mais ACESSÍVEL, independente do nível de complexidade exigido.
Mas aí é outra história...pra uma outra postagem... :-D

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