domingo, 18 de maio de 2008

RPG e Educação: o lúdico na formação do indivíduo

Quando os americanos, Gary Gigax e Dave Arneson, conceberam o primeiro RPG, no início da década de 70, nos Estados Unidos, provavelmente não previram todas as possibilidades que o jogo representava. Dungeons & Drangons (Masmorras e Dragões) surgiu com três livros que continham as regras de um mundo de fantasia medieval, inspirado na literatura de J. R. R.Tolkien. Logo a essência do jogo transcendeu a dos wargames (jogos de estratégia envolvendo conflitos, que os inspiraram), tornando-o autônomo e permitindo a criação de uma nova categoria de jogo, caracterizada pela independência de suporte físico, cooperação entre os participantes, relativização do conceito de vitória (e derrota) e do tempo de duração das partidas.

Além da função de entreter e divertir, para a qual foi originalmente criado, o RPG vem se mostrando como (mais) um recurso com fins pedagógicos que permite desenvolver habilidades que são necessárias para a formação de um indivíduo crítico e criativo. Sua importância reside na possibilidade de permitir a estimulação e o desenvolvimento de um conjunto variado de habilidades associadas às múltiplas inteligências de um mesmo indivíduo. Essas múltiplas inteligências são consideradas pelo pesquisador Howard Gardner (um dos principais pensadores do nosso tempo e autor dessas idéias) como tendo as dimensões lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, naturalista, intrapessoal, interpessoal e pictórica. Cada uma dessas dimensões está ligada a uma competência do indivíduo, assim poderíamos associá-las, a priori, a várias etapas ou aspectos do jogo, como por exemplo: a lingüística, que está relacionada à construção criativa de imagens com palavras e com a linguagem, pode ser desenvolvida no processo de criação da aventura, feita sempre instantânea e oralmente; a lógico-matemática, associada ao raciocínio dedutivo e à habilidade com números e símbolos, pode se apresentar na resolução das situações-problema apresentadas no decorrer de uma aventura; a interpessoal, ligada ao relacionamento com os outros e à sensibilidade do indivíduo, é desenvolvida no desenrolar dos trabalhos em equipe, já que a colaboração e a cooperação são pré-requisitos para se atingir as metas de cada partida. Isso sem destacar as demais.

Não é à toa que o RPG vem sendo pesquisado por profissionais das Ciências Humanas, e assumindo, como atividade lúdica associada ao processo ensino-aprendizagem, papel importante no processo de formação do indivíduo. O educador Celso Antunes, em seu livro Jogos para estimulação das múltiplas inteligências, afirma que “o jogo é o melhor caminho de iniciação ao prazer estético, à descoberta da individualidade e à meditação individual”. Nessa obra ele lista uma série de jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. Um olhar mais acurado sobre certos jogos permite uma associação com o RPG, pois alguns são de representação de papéis, enquanto outros são de resolução de situações-problema propostos aos alunos com debate sobre as soluções escolhidas, sugerindo, dessa forma, que poderiam fazer parte de um mosaico que comporia esses chamados jogos de representação de papéis. Ao que parece, o RPG, apesar da discriminação que ainda sofre por parte dos “leigos”, adquire cada vez mais status de “coisa séria”.

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